Apontamentos - Aula 22/09/2011 - Paula Marques de Carvalho


Parte 1 - Discussão sobre processo de construção de resumo para trabalhos científicos.

Resumo nada mais é do que um mapa do documento. Ele deve apresentar os tópicos do projeto de forma sintetizada. Deve ser redigido em apenas um bloco com espaçamento simples entrelinhas e deve respeitar o limite de caracteres imposto pela instituição de depósito ou de avaliação. Nele devem constar de uma forma geral, as seguintes informações:

a) O quê? Contexto/cenário; Objetivos da pesquisa.

b) Por que? Justificativa, o Recorte.

c) Como? Materiais e Métodos; Fundamentação teórica.

Dependendo do tipo de trabalho, deve-se acrescentar - se houver - resultados e conclusão, por exemplo: Monografia, Dissertação, alguns tipos de artigos.

Importante: Embora existam duas formas de escrita na qual se produz o resumo, “cognitivamente, maneiras diferentes de operar”: antes ou depois do desenvolvimento e conclusão do trabalho, a professora recomenda, escrever o resumo sempre antes do trabalho, por diversas questões e uma delas é prática: muitos encontros, congressos e seminários solicitam a submissão primeiramente apenas do resumo e o texto é escrito posteriormente. O resumo através dos seus tópicos será um guia para a pesquisa e produção do texto.

Parte 2 – Construção dos textos a partir dos pressupostos de Kittler (equipes) e ajustes dos participantes no blog.

Parte 3 – Leitura do exercício dos estudantes e comentários sobre a palestra de Erick Felinto.

Análise do exercício de aplicação dos pressupostos de Kittler aos temas e objetos da turma. Leitura do texto de Eliane Testa. Complementos acerca dos pressupostos de acordo com as discussões em sala e Profa. Lúcia Leão:

a) Pressuposto da Exterioridade

Um aluno perguntou se podemos relacionar a materialidade das mídias com alguns conceitos (instrumento, máquinas e aparelhos) propostos por Flusser, em a Filosofia da Caixa Preta (2011):

Para Flusser, os instrumentos simulam órgãos e prolongam corpo humano (ex: faca, martelo). As máquinas são produtos de teorias científicas e substituem os trabalhos humanos. Por serem caras, só os capitalistas as possuem e são invenções técnicas típicas do mundo industrial e da ideia de proletariado. Os equipamentos, por sua vez, são típicos do mundo pós-industrial e modificam a vida do homem. Os aparelhos produzem, manipulam e armazenam símbolos. Funcionários são agentes que jogam com o aparelho. O jogo é uma permutação de símbolos já contidos no programa do aparelho.

Discussão sobre Mídias Locativas - “[...] trazer Foucault é importante. Cada mídia tem suas maneiras de controlar, de exercer poder. Nenhuma é neutra”.

Ex.: Pergaminho, um artigo de luxo. “Tem um discurso próprio além daquela materialidade que está inscrito que o acesso é restrito a poucos. O discurso muitas vezes sobressai ao próprio corpo da mídia.” (Eliane Testa)

“Discurso para Foucault, o que não fica tão claro no texto de Wellbery - Significa dizer que não é possível separar essas materialidades, essas características da mídia do que está inscrito.”

Ex.: Uma roupa. “Não se faz uma roupa com qualquer tecido. O próprio tecido vai dizer o que é possível fazer [...] esse tipo de inscrição do código é muito importante. Seria onde está realmente o ponto importante da teoria da mídia.”

Erick Felinto fala que o título do livro deveria ser traduzido como rede de inscrição/notação (nome original em alemão). Para evitar confusões, como por exemplo, o uso do termo discurso por Foucault e pela semiótica discursiva, Lúcia explica:

“O que quer dizer o discurso da semiótica discursiva? O significado das frases, dos textos. O discurso para muitas linhas analíticas significa o sentido do que está sendo dito e não o fato de ser dito. Há diferença entre o que é dito e o fato de ser dito. Está sendo dito, mas dito como? Está sendo dito em uma aula, tem um significado, está sendo escrito em uma carta em um papel de pergaminho. Outro significad! Então, quando Foucault e Kittler estão falando de discurso é nesse sentido da inscrição do significado mais o acoplamento com a materialidade da mídia escolhida. Por isso que, em alemão: Rede de Inscrições.”

“Um dos aspectos da mídia é que ela tem um limite, um contingente. Ela sempre será exterior. Isso é chamado de contingente de exterioridade. Isso determina que a inscrição se torne evidente, a ideia de rastro”.

Ex.: “Quando um parente nosso deixa um bilhete, isso é uma inscrição. Se você o conhece, sabe que ele estava com pressa, você decodifica não só o que está escrito, se ele arrancou um pedaço do papel, se usou papel de pão [...]”.

“Existe algo que é exterior, que é possível de ser analisado. Se não houvesse o contingente de exterioridade não seria possível analisar. Analisa-se a inscrição, por outro lado, a inscrição está acoplada a mídia. No processo de análise tomamos uma atitude de exterioridade.”

“O objeto de estudo não é o que é dito, mas o fato de ser dito. O fato brutal de que aquilo foi dito e não alguma coisa a mais, isto sim é a inscrição. A escolha do código com o qual se vai operar.”

b) Pressuposto da Medialidade

“Uma relação cultural é uma mídia. Não é a tecnologia, não é o aparato. Por isso que o corpo pode ser mídia.”

“Para realmente criar uma mídia culturalmente ela tem que ser compartilhada por várias pessoas. Só uma pessoa fazendo uma coisa, é uma experiência com a mídia. Não constitui uma nova mídia.”

Erick Felinto formula a hipótese de que o “Fantasma” é uma mídia. “Ele é o intermediário entre dois mundos: o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, um intermediário entre o que as pessoas pensam e uma verdade que foi abafada [...].”

Conforme, Kittler todas as mídias de transmissão requerem um canal material e a característica de todo canal material é que, além – e, como se fosse, contra – a informação que ele carrega, produz barulho e absurdo. É definido não pelo que significa, mas pela diferença entre significado e não-significado, informação e barulho que suas possibilidades de mídia estabelecem. (Eliane Testa)


“Nesse sentido não há ruído, é informação que vai junto.”

c) Pressuposto da Corporalidade

“Onde trabalha? Pensa na época. O que aconteceu lá. Ex.: Grupos Criativos na França e a importância da vida boêmia. Dadaísta e o Cabaré Voltaire – Naquela época aquele grupo se encontrava naquele bar o que fomentou reflexões. Então, é a questão de como o processo de criação se dá.”

O pressuposto da corporalidade tem duas consequências metodológicas, a questão do agenciamento e o background (a ideia de contexto).

Ainda sobre Kittler (Profa. Lúcia Leão)

  • O título do livro de Kittler, "Discourse networks", no original alemão
    é "Aufschreibesysteme" = “systems of notation” = Sistemas de Notação.
  • A primeira edição do livro é de 1985.
  • A pesquisa de Friedrich Kittler faz uma comparação de ordem materialista e se divide em dois blocos: os anos 1800 e 1900.Segundo ele, há dois regimes de conhecimento ou formas pelas quais os dados são selecionados, armazenados e processados:


1) "Reino de Sentido" que se fundamenta no entendimento e significado;
2) Com base em imagens e algoritmos.

Exemplo: A forma como a máquina de escrever alterou a natureza do
discurso e da linguagem.

Observações: Todos os estudantes de mestrado e doutorado devem participar de defesas de teses e dissertações. Podem consultar no site da PUC, na área de pós-graduação a data das defesas e assistir às mesmas, independente de serem do COS ou não. Neste mesmo endereço devem procurar e baixar o documento que deve ser assinado pelo presidente da banca em questão. Este documento deverá constar no relatório do estudante que será apresentado antes de sua qualificação.

Referências

FELINTO, Erik (2008). A imagem espectral: comunicação, cinema e fantasmagoria tecnológica. São Paulo: Atelier Editorial.

FLUSSER, Vilém (2011). Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Annablume.

WELLBERY, D. (1999) “Foreword”. In: KITTLER, Friedrich. Discourse Networks 1800/1900. Stanford: Stanford University Press.

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