Trabalho sobre os três pressupostos de Kittler

Aluna: Grazyella Cristina Oliveira de Aguiar
Professora: Dra. Lúcia Leão
Disciplina: Seminário de Pesquisa II


O projeto de pesquisa “A Influência do imaginário nos processos de criação em moda” tem por objetivo buscar compreender o ritmo e a estrutura da comunicação da moda e as possíveis interlocuções produzidas em contextos que recebem a influência do imaginário no seu processo de criação. Para compreender como a moda se transforma em objeto de comunicação, será preciso refletir sobre como as mídias influenciam na moda e são influenciadas pela moda e sua possibilidade de personalizar ou despersonalizar as pessoas.
Para tanto, alguns objetivos foram traçados:

compreender o ritmo e a estrutura da comunicação da moda e as possíveis interlocuções produzidas em contextos que recebem a influência do imaginário no seu processo de criação;
entender até que ponto as mídias influenciam no processo criativo na área da moda, e o processo inverso, até que ponto esta mesma área influencia essas mídias;
analisar a influencia do imaginário no processo criativo em moda de diferentes profissionais renomados da área para compreender como se concebe o NOVO através de diferentes “olhares”.

Relacionando os três pressupostos teóricos de Kitter (apud Wellbery, 1999), com o projeto de pesquisa mencionado acima, pode-se chegar às seguintes premissas:


O primeiro pressuposto é a exterioridade: pressuposto que descreve o fenômeno, é analítico, observa de fora, determina a perspectiva global da crítica de Kittler. Neste contexto, ele analisa o que vai ser trabalhado no projeto. Assim, serão feitas análises dos processos criativos e arquivos de criações de alguns estilistas como Ronaldo Fraga e Jum Nakao. Segundo Salles (2010), esses processos criativos podem ser desenvolvidos a partir de uma compilação de documentações (cadernos, esboços etc.) de manifestações artísticas diversas.

O segundo pressuposto que Kittler defende, é a “medialidade”: um pressuposto relacional, generaliza o conceito de meio, para aplicá-lo a todos os domínios de intercâmbio cultural. Se pegarmos como exemplo a coleção do inverno 2005 do estilista Ronaldo Fraga intitulada: “Todo mundo e ninguém”, inspirada nas obras de Carlos Drummond de Andrade, veremos uma seleção de algumas obras de Drummond, estampadas com a própria caligrafia do poeta nas peças criadas pelo estilista. Fraga fez uma relação entre as obras literárias de Drummond e a criação de suas indumentárias. A poesia estava presente nas peças, não só por meio dos tecidos escolhidos, cores, formas, mas por meio da impressão das poesias. Fraga editou novas versões de “livros de Drummond” em “livros com pernas”: aqueles que se podem ler na própria pessoa. Quando você abre um livro você libera as palavras impressas; de forma semelhante ao vestir a indumentária você libera as palavras para que elas conquistem o leitor. Ao ler uma poesia o leitor se sente tocado pelas palavras; nas indumentárias de Fraga as palavras de Drummond tocam, literalmente, a pele do leitor. O texto é tecido por palavras e a as palavras estão tramadas no tecido. É o texto no texto. O texto verbal em congruência com o texto imagético.
A figura abaixo ilustra a coleção “Todo mundo e ninguém”, de Ronaldo Fraga:


Figura 1: Um recorte da coleção: “Todo mundo e ninguém”, de Ronaldo Fraga.
Fonte: RONALDO, Fraga. São Paulo: Cosac & Naify, 2007. 149 p. (Moda Brasileira, n. 4), p.92 e 93.

O terceiro pressuposto é a corporalidade: um pressuposto que está relacionado ao tempo e espaço, ou seja, como funciona. É a singularidade corporal na construção do significado, é a cristalização da obra. É neste sentido que se pode relacionar a coleção de inverno de 2005 de Ronaldo Fraga, com outros estilistas que no mesmo período, também utilizaram a caligrafia de outros poetas, outros artista. Neste momento a questão histórica é a corporalidade, o tempo é materializado, cristalizado, torna-se corpo, torna-se carne. Um exemplo de corporalidade é o roupão criado pelo estilista Jean Charles Castelbajac, que utilizou a tipografia de René Magritte. Segundo Santos (2010), Castelbajac cristalizou Magritte e suas obras:“[...] neste robe que traz a frase “Je suis toute nue en dessous” (algo como “Não estou usando nada por baixo”). Como não lembrar da ironia histórica da tela La Trahison des images (Ceci n’est pas une pipe), feita por Magritte em 1929?”


Figura 02: Roupão criado pelo estilista Jean Charles Castelbajac
Fonte: SANTOS, Alexandre, 2010. Disponível em: http://freakshowbusiness.com/2010/04/23/35-roupas-inspiradas-em-quadros-e-esculturas-modaarte/. Acesso em:10.out.2011.


Percebe-se que tanto o estilista Ronaldo Fraga quanto o estilista Jean Charles Castelbajac, criaram coleções inspiradas nas artes. Nesses tipos de coleções, Fraga se inspirou principalmente na literatura e Castelbajac nas artes plásticas e na música. Em comum nos dois exemplos apresentados há o fato de ambos terem utilizado a tipografia dos autores das obras.

“[...] no princípio era o Verbo
[...] e o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
(Jo 1:1,14)



Referências Bibliográficas:

BIBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução: Centro Bíblico Católico. 34. ed rev. São Paulo: Ave Maria, 1982.

SALLES, C. A. Arquivos de criação: arte e curadoria. Vinhedo: Horizonte, 2010.

WELLBERY, D. “Foreword”. ________.In: KITTLER, Friedrich. Discourse Networks 1800/1900. Stanford: Stanford University Press, 1999.

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