Apontamento e Anotações - aula 5 - 22/09

As Estruturas Antropológicas do Imaginário
Gilbert Durand


As pesquisas sobre o imaginário de Gilbert Durand traz uma constante antropológica que consiste em mostrar que todo pensamento, seja ele justificador de uma posição racional ou de uma posição intuitiva, tem sua matriz nas imagens. Mesmo que haja algum tipo de recalcamento, as imagens constantemente indicam um sistema simbólico que permite ao pensamento “ser no mundo”. Dois eixos apóiam suas investigações: O primeiro se baseia nos trabalhos de Gaston Bachelard, que transita do rigor epistemológico para a ambigüidade e semantismo da imagem poética. O segundo eixo provém da Escola de “Eranos”, iniciada por Rudolf Otto e Karl Jung.

Para Durand, o mito está sempre presente na capacidade que o ser humano tem para simbolizar, seja pelas imagens propriamente simbólicas ou pelos motivos arquetípicos. Significa que o imaginário é o centro da habilidade do homem para transcender e que, com pouca variância, se realiza na forma de imagens simbólicas e de narrativas arquetípicas.

O estruturalismo do antropólogo exige que ele delimite os trajetos antropológicos que os símbolos constituem. Para isso, vale-se de um método de convergência que mostra as constelações de imagens constantes estruturadas por um isomorfismo dos símbolos convergentes. O processo de convergência é feito por homologia e não por analogia, pelo semantismo dos símbolos e não pela sintaxe. Isso significa que os símbolos seguem sua natureza arquetipal, impedindo que fiquem perdidos e espalhados em suas funções e discursos culturais, sociais etc, ou, ao contrário, que fiquem presos numa estrutura rígida e portadora de significados sedimentados.

Como as imagens convergem e se estruturam em torno de núcleos organizadores, como um imã que “puxa” as imagens e seus respectivos símbolos para o seu pólo, Durand procura classificar esses núcleos, que estabeleceu a concepção de gestos ou reflexos dominantes em 3 grupos: o postural, o digestivo e o copulativo, estes por sua vez vão formar as matrizes nas quais as representações humanas naturalmente convergem e se integram. As imagens são classificadas em bipartição: Regime Diurno e Regime Noturno.

Regime Diurno: ligada a Dominante Postural
(busca pela verticalização, é norteadora das imagens diurnas que se desdobram na tecnologia das armas, dos magos e dos guerreiros; no cetro do soberano e nos rituais de elevação e purificação)
No Diurno está a Estrutura Heróica, que se caracteriza pela luta, tendo como representação uma vitória sobre o destino e sobre a morte, cujos principais símbolos são:
- símbolos de ascensão – leva para a luz e para o alto;
- símbolos espetaculares – diz respeito à luz, ao luminoso;
- símbolos diairéticos – refere-se à separação cortante entre o bem e o mal.
O Regime Diurno assume esquemas verbais de distinção, ou seja, “narrativas” de negação do tempo e das trevas. Com uma atitude diairética (em direção à luz), se projeta para cima e para além, no atemporal. A instância negativa, ou seja, a angústia da morte, e que obviamente deve ser rechaçada, é representada por símbolos teriomórficos (animais), nictomórficos (trevas) e catamorfos (queda e abismo). A imaginação diurna adota uma atitude heróica que reforça o aspecto tenebroso e maléfico de “Cronos”. Numa antítese da morte, antepõe a figura do herói com suas armas, que geralmente termina com uma teleologia ascencional e luminosa (o herói vence a morte, ressurge e sobe para o céu luminoso). Os símbolos básicos dessa atitude é o cetro e o gládio.

Regime Noturno: Ligada as Dominantes Digestiva e Copulativa
(busca pela ação de descida, do calor e do engolimento, é norteadora das imagens noturnas que se desdobram nas técnicas do recipiente e da casa; nas ações alimentares, digestivas e nos esquemas matriarcais. A dominante copulativa ou sexual, na busca pelas ações rítmicas, é norteadora das imagens noturnas que se desdobram nas técnicas do ciclo e do calendário agrícola; no drama do retorno e na concepção histórica; nos mitos e dramas astrobiológicos.
No Noturno, temos duas estruturas: estrutura Mística, que se refere à construção de uma harmonia, onde se evita a polêmica e há a procura da quietude e do gozo, tendo como recurso expressivo os símbolos de inversão e os símbolos de intimidade.
A Estrutura Sintética, diz respeito aos ritos utilizados para assegurar os ciclos da vida, harmonizando os contrários, através de um caminhar histórico e progressista, sendo que seus símbolos são os símbolos cíclicos.
O símbolo tem a função transcendental de permitir ir além do mundo material objetivo. Devido a dimensão da ambigüidade, o símbolo está sob constante processo de reequilíbrio, tais como o equilíbrio vital, o equilíbrio psicossocial e o equilíbrio antropológico.
O Regime Noturno transmuta o aspecto negativo da morte capturando as forças vitais e benéficas do devir. Numa atitude de assimilação, converte a morte e as trevas em imagens e símbolos aceitáveis. Assim, o Regime Noturno é dividido em uma Estrutura Mística, que converte e eufemiza a morte, e uma Estrutura Sintética, que concilia o desejo de devir com o eterno retorno. Na estrutura mística, a subida e a luz se convertem em descida e trevas para penetrar nas profundidades. Num gosto pela secreta intimidade, busca a cavidade, retorno ao seio materno e se transforma em símbolo de repouso primordial.
No Regime Noturno Sintético é evidente a integração da atitude trágica com a atitude triunfante do devir convertendo-as em uma concepção dramática.

Estabelecidas as estruturas antropológicas do imaginário, Durand conclui com a importância central do mito, pois, no fundo, toda representação do homem, seja ela positivista ou não, é baseada no discurso, num impulso narrativo que envolve a compreensão do sujeito e do mundo.

Fonte: Rogério Carvalho - Trechos extraídos de projeto PhD.
Arneide Bandeira Cemin - Departamento de Filosofia e Sociologia (UNIR)

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